28.11.05

Da porta da geladeira

Outro dia, li um imã na geladeira de uma amiga e fiquei pensando em coisas que funcionam ligadas a locais próprios. Nas artes plásticas, por exemplo, existem trabalhos "site-specific". Ou seja, a interação da obra com o espaço para onde foi criada faz parte do trabalho. A graça está na relação. Assim, descambando de área, lembrei das maravilhosas frases de pára-choque de caminhão: Idiotices que se tornam sublimes viajando entre rodas. E a psicologia de botequim? Quer coisa mais tosca se não vier de companheiros bêbados no fim da noite e no meio de uma desilusão? Pois é.
Aí pensei nestes imãs que aparecem em quase todas as geladeiras do meu círculo social. Eles trazem, muitas vezes, mensagens filosóficas com um tom sarcástico de personalidades conhecidas ou não. Que eu me lembre, a primeira vez que eu os vi foi na década de 90, bem quando descobriram que as placas de metal poderiam substituir os quadrosa de cortiça muito bem. Foi um 'boom' de imas, inclusive destes. Não sei porque foram parar na porta da geladeira, pois não parece a intenção inicial de seus fabricantes.
Mas que deu certo, deu. Não é engraçado ler aforismos na porta da geladeira? E conhecer o nome de gente que jamais teríamos contato se não fosse pela fome ou sede? Descobrir um pouco mais sobre o dono da casa pela porta da geladeira?
Sem contar a parte estética, que não vou nem comentar se não vão me chamar de patrulha por aí.
Ps 1: O imã que deu início ao post dizia algo mais ou menos assim: "Transformei- me em mim mesmo e não em outro quando comecei a fazer coisas que julgava proibidas." Não me lembro de quem é a frase, mas se a Bel ou a Tânia passarem por aqui, elas vão poder dizer, pois o imã mora na geladeira delas.
Ps2 : Outro dia ganhei um outro do Thiago: "Faça almoço não faça guerra". Não tem assinatura, mas é inspirador, não?

22.11.05

Pára-raio de maluco beleza

Hoje eu tava meio de bode desde a hora que acordei.
Mesmo sendo feriado em niterói, fiquei enrolando em casa e fazendo pequenas coisas necessárias, pois não tinha muita esperança de que o dia fosse acabar bem.
Resolvi sair e tive certeza disso quando peguei um taxi e o motorista puxou conversa. "Droga, o cara vai começar a se lamentar pelo governo, pelo país ou vai falar sobre qualquer conspiração que só os motoristas de taxi são capazes. E vou me irritar ainda mais.", pensei eu enquanto era surpreendida com uma conversa de como ele estava feliz com as flores que ele vinha plantando em seu jardim e estavam florescendo. Surpresa, engatei na agradável conversa do senhor e ainda aproveitei para pegar umas dicas, visto que até cactus morrem na minha mão.
Saí do carro contente pela conversa inusitada, rumo à loja onde pretendia ir comprar uns trecos para a aula de Yoga. Entrei na Sementeira, lugar que parece de outra dimensão. Não só pelos produtos lindos que são vendidos ali, mas especialmente como as meninas levam a loja com amor, como se relacionam com as clientes. Buena onda total.
Ainda estava lá quando me dei conta que o mundo ameaçava meu mau-humor. De repente, entrou um rapaz na loja, representando uma revista onde a loja pretendia colocar anúncio. Logo, ele não era cliente buena-onda. Fora parar ali por acaso. Ele estava notoriamente contente e animado. Era quase impossível não olhar para ele por causa do sorriso; talvez pela cara que eu e as duas meninas da loja estávamos (totalmente admiradas com tal alegria), ele virou e disse:
- Pô, eu estou muito feliz hoje!!!! E pior, sem o menor motivo. Na verdade eu estava no maior mau-humor e de repente me lembrei de um momento bom e de outro e de outro e quando vi, estava rindo à toa. Engraçado, parece que ser feliz é um exercício!
Se ele fosse um praticante de Yoga, eu teria consciencia de que aquele ambiente era totalmente favorável para este tipo de comentário.
Do contrário, fiquei com a sensação de que o mundo enlouquecera. Peraí, você sai de casa desanimada e ao invés do desfiladeiro de murrinhas, de ninguém-mereces, tragédias, ameaças, esbarrões, xingamentos e outras coisas que só aumentam o mau-humor, você bate em algumas criaturas felizes e satisfeitas por motivos relativamente banais?
Conspiração, só pode ser cospiração. Pelo menos esta foi do bem. Diante de tal bizarrice até esqueci do meu mau-humor.

14.11.05

Seria a Estrela Dalva ?

Para a amiga que olha o Céu de Frankfurt:
Corpo estranho no céu do Brasil com a lua do lado certo!

[Dimitri diz:]
enquanto isso, na sala de justiça...

[everybody say:]
- sushiii!

6.11.05

"Tranqüilamente entenda sem pensar"

Sei lá se o tal retorno de saturno adiantou, afinal os vinte e nove só chegham mês que vem. Mas o fato é que sem saber ou acreditar muito em qualquer explicação que possa ser dada para tal, poucas vezes perdi o prumo como em 2005.
Há uns dois meses, já depois de muitos ataques nervo, de choro, de mau-humor, de desesperança, etc, tentei buscar novos caminhos para tentar me distrair e quem sabe melhorar um pouco.
Em algum lugar do meu inconsciente vivia a idéia de fazer yoga. Na mesma época encontrei uma matéria de como a Yoga era importante, pois era um caminho de alienação de tudo: Mundo, mente e coisa e tal. Pronto: era tudo o que eu queria: Alienação! Não pensar pelo menos por um segundo em tudo que vinha me atormentando e que vinha sendo pensado e repensado fernéticamente sem que eu chegasse em qualquer saída. Descanso, descanso... Era tudo o que eu queria.
Fui amadurecendo a idéia e percebi que andava feito uma velha também fisicamente. Estava cheia de dores e corcunda. É, a Yoga podia ser mesmo uma idéia. Alienação e postura! Era tudo o que eu queria.
Por uma série de fatos que foram se encaixando, descobri meu atual professor( para quem quisermais informações o blog dele é www.satyavrata.blogspot.com). Foi há um pouco mais de um mês. Comecei a ter aulas em casa, o que facilita ainda mais a minha vida de mãe.
Logo fui descobrindo que eu tinha uma idéia meio errada sobre Yoga. Não só pela palavra masculina e com a pronúncia do "o" fechado (eu acho que nunca vou aprender bem esta parte, pois cresci falando "a Yóga"). Na verdade era muito mais que exercício para não ficar corcunda e não tinha nada a ver com alienação.
Nada mesmo. Ao contrário, Yoga não me trouxe alienação, mas conscientização. Em nenhum momento bloqueei meus pensamentos, mas aprendi a me distanciar deles de vez em quando.
E por conta desta conscientização, voltei a dormir, saí do turbilhão de pensamentos que vinha me perseguindo e estou me sentindo mais feliz. Não precisei fazer nenhuma mudança estrutural na minha vida. Ela continua a mesma. Só estou aprendendo a conviver melhor com ela e comigo.
Continuo meu caminho Yoga a fora.
E podem falar o que quiser. Até deste post, que soou meio piegas.

"Tranquila, levo a vida tranquila..."

3.11.05

Negativo

Quem me conhece sabe que sou quase transparente de tão branca.
Por conta disso, já passei por várias situações inusitadas.
Sabia de cor toda e qualquer variação de branca azeda que uma criança podia inventar.
Praia era significado de caladryl à noite toda. Hoje, é sinal de programa para depois das quatro e somente após todo o preparo adequado com litros de protetor solar.
Calor sempre significou mal-estar ou uma boa dose de mau-humor (excelente mistura para quem vive 10 meses de verão no ano).
Mas, recentemente, passei por uma situação para lá de tragicômica por conta da minha branquidade:
Aconteceu logo assim que comecei a trabalhar no posto onde trabalho agora, numa comunidade em Niterói. Nos primeiros dias de trabalho, notei um falatório disfarçado sobre o assunto. Era só sair do consultório e ouvir das bocas ainda anônimas na sala de espera um burburinho cheio de exclamações contidas a respeito da minha (falta de) cor. No dia que ousei a ir de saia então, a quase fluorescência da minha batata da perna chocou a todos os presentes no posto. Tentaram, mas ficou difícil abafar os comentários.
Passados uns dias, a coisa acalmou. Assunto esquecido.
Algumas semanas depois, recebo no consultório uma já ilustre paciente. Muito indignada, ela fala:
- Doutora, esse pessoal aí de cima não tem mais o que fazer.
- Que houve, I.?
- Tão dizendo que a senhora é racista. Que não gosta de preto.
- Como? Eu não gosto de preto?
- Eu sei, eu sei, doutora, que não tem nada disso não. Você me abraça, me dá beijo... Eu falei lá em cima que isso era história.
- Aaaahm.
- Mas aí disseram que você era nojenta pois sempre lavava a mãp depois de examinar a gente.
- Hora, I. Mas faz parte do meu cuidado com vocês lavar a minha mão, para evitar que alguma doença passe de um paciente para outro.
- Eu sei, eu sei. Mas sabe como é que é, né? Quem não tem o que fazer inventa.
- I., a troco de que eu viria trabalhar aqui se eu fosse racista? Todas as auxiliares do posto são negras, a maior parte da população é negra... Só se eu fosse masoquista!
- O que doutora?
- Maluca, maluca, I.
- É, só se você fosse maluca, né? A senhora não parece maluca.
- Ainda bem, né ?

E assim foi a conversa. Funesta.
Alguém aí entende sobre racismo no Brasil?