Gêmeas, nos odiávamos. Estávamos cansadas de sermos juntas.
Não era um sentimento colérico, mas um odiozinho nutrido no tédio dos anos ali paradas, lado a lado, sempre par.
Quando a pouco um avião me atingiu, entendi tudo isso melhor. Eu tinha sido atingida. Eu, a torre Norte e não as torres gêmeas.
Senti que minha irmã me olhava assustada e com inveja. Inveja sim, porque o máximo que ela tinha passado era por um atentado à bomba. Nada comparável a ser atingida por um avião. Isso eu passaria sozinha, sem ela. Sinto-me grande pela primeira vez em muitos anos. Já não era a mais alta do mundo, mas tinha um avião na barriga!
Mas a vez dela chegou também. Fiquei assustada. Senti que o baque nela fora maior. Percebi o abalo. Pressenti. E tive saudades daquele jovem equilibrista que um dia nos uniu com poesia de fio de aço. Um único dia de sentido da nossa duplicidade. Ela caiu...
Eu ainda estava de pé quando ouvi lá de baixo: Foi atentado!
Sorri desconcertada e caí: O primeiro prédio mártir da história.